terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A carta




Carta de Linda a Marcelo:

Quando deito, fecho os olhos e vejo a noite. Sim, a vejo de olhos fechados. A noite que não tem mais estrelas. Por tanto tempo procurei aquela que seria o meu ponto de referência para lhe encontrar. Como o Cruzeiro do Sul para quem está no mar. No entanto, só consigo me afogar no oceano desta escuridão. Paguei o preço por acreditar que assim estaria perto de você. A minha dor vem desse vazio, o vácuo do universo que me faz perder a respiração. Cansei de me perder no céu, me encontro em terra. Não terra firme, talvez uma areia movediça.

O tempo não passa quando estou longe de você e a angústia machuca como espada que atravessa o peito. Esse tempo, dentro de mim, é infinito e me faz envelhecer ainda mais. E as cartas que não recebi, me fazem lembrar de como é ruim não ter nem sua palavra que vem de longe. Aprendi a me contentar com seu sorriso distante e fotos em envelopes. A cada segundo que se passa lentamente, como se estivesse se arrastando pela linha do tempo, me faz perceber que não tens mais tempo para mim. Eu tenho todo tempo do mundo para você. E todo meu tempo nem me pertence mais. Este frio está cada dia mais forte. Está certo estar perto sem estar? Por que tem que ser assim? Dentro de minha alma, sinto que a minha busca é em vão. E mesmo que eu tenha pressa, e sofra por não estar com você, ainda sinto que estou ao seu lado. A paz nunca se anunciou. Desde que você partiu de mim ou... Me partiu.

O meu beijo é doce, mas minhas lágrimas são salgadas. Nunca se pode ter os dois. Não se pode fazer de um sonho a realidade, e nem a realidade é um sonho. Tudo em volta é sem graça, sem gosto e errado.

Toda culpa parece resposta para minha frustração. Vivo em dias sem festa e sem vontade de festejar. Sem motivo para sorrir. Não quero mais andar, se não tenho para quem me dirigir. Prefiro fechar os olhos aqui no meu leito, com um peito vazio... Sem o coração que foi roubado... Que preferiu outro lugar e feriu alguém aqui. Quando não houver mais acordes, durma. A música não continuará. Vou dormir. Minhas palavras desconexas só fazem sentido para mim.

Prometi a mim mesma que não iria chorar. Meu rosto não está sujo. E água no rosto é apenas para limpá-lo. Gotas d’água deveriam cair só da chuva, nunca dos olhos. Não é problema com a maquiagem, pois já borrou faz tempo. Assim como é a sua imagem... Um borrão na minha frente. A felicidade acabou quando a minha estrela caiu. Estrelas cadentes não realizam desejos, mas acabam com sonhos.

Quando puder, me envie a metade de mim que se perdeu dentro de você. Estou sentindo falta de mim mesma por completo. Sinto que sou um meio ser, apenas metade da minha alma reside em mim. O meu eu era seu. Não me arrependo por tê-lo dado um bem tão precioso. Sinto por ter me machucado. Minha miséria se resume a um não ter-me completamente como antes. Estou tão perto de você... E você tão longe de mim.

Desculpe-me se sou cega ou se quis acreditar. Não pude evitar aquilo que sou... Ou que era e não serei mais. Sou um vaso quebrado lutando para se reconstruir. Com medo de seguir em frente, pois agora a fragilidade tomou conta, e um coração em cacos, mesmo com eles colados, nunca será o mesmo. Um coração que a qualquer hora pode ruir... Novamente.

All yours... I wish you were all mine.

Linda…

OBS: Esse texto é baseado nas personagens do livro que estou escrevendo: Vernon.



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